Nos últimos anos, o modelo open source tem deixado de ser apenas uma filosofia de desenvolvimento para se tornar também uma estratégia de negócios poderosa. De sistemas operacionais a infraestruturas bancárias, cada vez mais empresas apostam no código aberto para construir soluções robustas, acessíveis e escaláveis. Mas uma pergunta sempre surge quando esse tema aparece em uma reunião de negócios: “se é open source, como vocês ganham dinheiro?”
A resposta está menos na gratuidade e mais na autonomia. O verdadeiro valor do open source está na liberdade de escolha, inclusive na forma de engajar com a tecnologia. E é justamente essa liberdade que abre espaço para diferentes estratégias de monetização.
O modelo: núcleo gratuito, ecossistema valioso
Em um projeto de código aberto, o core da aplicação (como um ledger, motor de dados ou infraestrutura de pagamentos) é disponibilizado publicamente, com código auditável e documentação aberta. Isso não significa ausência de modelo de negócio. Pelo contrário: a monetização vem da criação de um ecossistema ao redor do core, composto por serviços, produtos, integrações e experiências premium.
Essa combinação permite que empresas como a Lerian ofereçam um produto completo, acessível e, ao mesmo tempo, sustentável.
Estratégias de monetização no open source
Abaixo, algumas das principais formas de monetização usadas por empresas globais — e também por nós na Lerian.
1. Serviços profissionais (Professional Services)
Consultorias, treinamentos, suporte técnico, customizações e integrações específicas são algumas das formas mais diretas de monetizar um projeto open source. Empresas que usam a versão gratuita do software, mas precisam de ajuda especializada, geralmente contratam esses serviços para acelerar seus projetos.
Foi o que fez, por exemplo, a Siemens, ao adotar tecnologias open source da Red Hat com suporte profissional — o que permitiu acelerar sua jornada de automação e transformação digital global.
2. Licenciamento Enterprise
É o chamado modelo dual-license: uma versão Community, gratuita, e uma versão Enterprise, com funcionalidades avançadas e suporte dedicado. Essa versão paga pode incluir itens como:
- Suporte 24×7
- Autenticação corporativa (SSO, LDAP)
- Mecanismos de reconciliação e compliance integrados
- Ferramentas de observabilidade e gestão multiambiente
Na Lerian, seguimos esse caminho com nosso ledger Midaz: o core bancário é open source, mas os clientes podem optar por um pacote Enterprise com plugins avançados, ferramentas de deploy via Terraform e suporte técnico especializado.
3. Treinamentos e certificações oficiais
Certificações em ferramentas como Kubernetes, Linux e outras soluções open source são amplamente reconhecidas e pagas. Elas servem para empresas que querem formar seus times internamente com segurança e qualidade, além de gerar receita recorrente para o mantenedor da tecnologia.
É um modelo consolidado por empresas como a própria Red Hat, que mantém um programa global de certificações técnicas.
4. Marketplaces e conectores pagos
Um dos maiores cases de sucesso nesse modelo é o WordPress. Embora o CMS seja gratuito, seu ecossistema movimenta bilhões por ano em plugins, temas, extensões e serviços. Desenvolvedores do mundo todo contribuem, e muitos também ganham criando soluções específicas para a plataforma.
Esse modelo de “marketplace de conectores” é também uma das frentes da Lerian: oferecemos um catálogo de plugins financeiros (como motor de cobrança, regras de autorização, módulos de CRM e SPB), que podem ser acoplados ao core por meio de APIs simples.
Números que comprovam o potencial
O mercado de software open source vem crescendo de forma acelerada e deve ultrapassar US$ 100 bilhões até 2032, segundo a Market Research Future. Alguns dados reforçam esse movimento:
- 96% das aplicações modernas utilizam componentes open source.
- A Automattic (WordPress.com) é avaliada em mais de US$ 7 bilhões.
- O ecossistema de plugins do WordPress movimenta cerca de US$ 1 bilhão por ano.
- O GitHub superou 100 milhões de desenvolvedores ativos em 2023.
- A Red Hat foi adquirida pela IBM por US$ 34 bilhões em 2019 — a maior aquisição da história do setor.
Conclusão: monetização com propósito
Monetizar um projeto open source não significa vender o que era gratuito, mas sim criar uma jornada de valor que respeite a liberdade de quem usa a tecnologia. A chave está em oferecer alternativas: desde o uso comunitário e autônomo até soluções corporativas com alto nível de suporte, segurança e performance.
Na Lerian, acreditamos que o futuro da infraestrutura financeira será construído em plataformas abertas, mas sustentadas por modelos de negócios transparentes, colaborativos e viáveis. E esse futuro já começou.